Vera Figueiredo

 

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Cresci entre fios, observando formas. Memórias afetivas e formação acadêmica se unem em minha produção. Busco criar vínculos entre coisas distintas que me revelem o invisível. Traço linhas imaginárias na esperança de me surpreender com metamorfoses de minhas memórias em caminhos entre palavras e imagens ou formas e marcas. Formas da natureza me fascinam.

Desenhos, 2022

 
 
 
 

Desde criança fui apaixonada pela matemática. Ingressei na Universidade Estadual de Campinas em 1968 para cursar Bacharelado em Matemática. Fui contratada em 1972 e permaneci como docente por 35 anos. Assim, vivi neste ambiente dos 20 aos quase 60 anos.

 
 
 

De passagem, 2008

 

Em 2010 me inscrevi na oficina Hilda Hilst de fotografia ministrado pelas irmãs Carol e Juliana Engler do Ateliê Cromo. Nesta oportunidade fomos fotografar no alto do prédio da prefeitura de Campinas. Acabei por registrar imagens de Silvana, uma das encarregadas de cuidar dos panos de limpeza. O registro dela em minha lente me rendeu um premio no salão de Artes Visuais de Vinhedo deste mesmo ano. E depois o premio aquisitivo pela pintura em aquarela.

 
 
 

Varal, 2010

Manu, 2015

 
 

O feminino me acompanha em meu trabalho artístico. Exploro relações entre imagens e formas por meio da experimentação entre vivências fotográficas e gravuras/monotipias. Muitas vezes eu me apoio em matérias descartadas para construir pequenas esculturas representando o feminino me permitem lançar mão do desenho, da costura e do bordado para reverenciar a mulher. Faço uso da fotografia e da gravura para recriar uma dimensão sensível deste universo.

 
 
 
 
 
 
 
 

agulhas, fios e tecidos….

A história com os fios vem da infância.
Sempre observei minha mãe em seus afazeres de costuras, bordados e tricô. Sempre digo que nasci entre fios, observando formas. Em 2016 recebi de minha mãe um rolo de 10 metros de tecido de algodão que ela usava para confeccionar maravilhosos e caprichosos panos de prato. Quase como uma devoção comecei a desfiar o tecido sentindo gratidão por quem me fez praticamente de amor, linhas e costura.

Fios abandonados a própria sorte ou recolocados sobre o tecido criam texturas que tanto me remetem a um desfiar a mim mesma quanto me recordam de cicatrizes.

 
 
 
 

Certo dia, na sala de visita de casa, ao som da música do Gil “cada tempo em seu lugar" encarei uma cadeira cheia de estórias. Ela me fazia recordar minha avó sentada a contar-me seus causos e me enternecer, minha mãe a tricotar e arrematar suas costuras e me ensinar, meu pai a ler ou simplesmente pensar na vida e me amar.

 
 
 
Não posso me esquecer que a pressa
É a inimiga da perfeição
Se eu ando o tempo todo a jato, ao menos
Aprendi a ser o último a sair do avião
— Gilberto Gil

Performance Cada tempo em seu lugar, 2017

 

Minha mãe Mama, hoje com mais de 90 anos, não se lembra mais de suas linhas, mas de mim se lembra bem. Alguns anos atrás ela me deu uma peça de tecido de algodão, dizendo: - Fique com você, não preciso mais dela. Ela fazia lindos panos de prato, e muito mais...

 
 
 
 
 
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Foto de Marcela Pacola

 
 
 

Recorte de vídeo da exposição Jardins Telúricos, 2022 / Casa de Eva, curadoria Fabiana Bruno / Concepção, captação e edição Sheila Oliveira.

Imagens de Vane Barini

Jardins Telúricos, 2022

 

Trabalhei com aquilo que cai no chão. Folhas e galhos se desprendem da natureza de onde surgiram e vão habitar o solo.  Caem pela ação da força da gravidade. Eles se desprendem para dar lugar às forças mais novas. Estes elementos parecem ter cumprido sua missão, entretanto continuam seu trabalho ao se desintegrarem para enriquecer o próprio solo de onde vieram, cultivando novas sementes e realimentando a vida. 

 
 
 
 

O tecido no qual eu imprimo uma folha é herança de minha mãe. Tecido de algodão que venho desfiando ao longo dos últimos tempos para falar, entre outras coisas, do esgarçamento da pele. Chamei a obra de presença/ausência.

 
 
 
 
 
 

Minhas mãos  entram para provocar  um ‘levante’. (Didi-Huberman) no sentido de dar às folhas caídas um movimento para cima e para o alto, como uma certa resistência a desafiar, momentaneamente, a lei da gravidade.  Quero prolongar, de certa forma,  o processo de desintegração natural. Não só isso.  Quero também explorar e multiplicar as formas e maneiras de existir. 
Nesse sentido, meu levante é um gesto poético e político. Político no sentido de revitalizar o cotidiano, enaltecendo a grandeza do miúdo. Poético na maneira de reinventar possibilidades estéticas que surgem da energia das memórias, tanto das plantas quanto das minhas.

Não há uma escala única para os Levantes: eles vão do mais minúsculo gesto de recuo ao mais gigantesco movimento de protesto. (Levantes – Didi-Huberman, texto curatorial)

 
 
 

Foto de Marcela Pacola

 

Em 2008 cursei arte contemporânea na Arquitec com as artistas/professoras Vera Ferro e Ana Helena Grimaldi. Foi um curso prático e teórico que enriqueceu ainda mais meu repertorio artístico. Nesta ocasião meu trabalho de conclusão foi Em nome do pai – 2009 – Meu pai faleceu poucos meses antes do final do ano e eu lhe prestei homenagem por meio de uma instalação de sua sombra. Comecei a perceber o poder da arte em nossa vidas.

 
 
 
 

Era uma tarde de primavera.

Percebi meu pai diferente. Senti que ele estava partindo. Não completaria seus 94 anos.
A família reunida lhe ofereceu um velório em vida. A sala de sua casa se transformou num espaço sagrado quando recebeu o último sacramento e pudemos rezar com ele o pai nosso.

Foi uma tarde de despedidas definitivas. Uma palavra de amor para a esposa, palavras de carinho para as filhas, para cada neto um beijo. Para a bisneta um abraço e para o que está a caminho, boa sorte! Uns pegando sua mão, outros lhe sussurrando ao ouvido.

Meu pai nos ensinou em vida e em morte. Ao dizer em morte, quero falar da permissão dele em poder estar junto. Ele partiu aos poucos. Ele foi partindo...e nos deixou acompanhar até onde foi possível.

 
 
 

A arte nos ajuda a viver, todas as nossas coisas, inclusive as nossas dores....

 
 
 

Em Nome do Pai, 2009

 
 

Recém saída da Matemática, ainda em 2007, comecei o curso de Aperfeiçoamento em Artes Visuais no Instituto de Artes da Unicamp, encontrando inspiração para novos desafios. Neste mesmo ano fui premiada com a obra ‘mulher caprichosa’ no 1o salão de arte contemporânea Unicamp.

 
 
 

Mulheres caprichosas , 2007

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Nunca parei de estudar e de pesquisar. Levo sempre comigo a curiosidade por descobrir novos meios de expressão.

 
 

Quisera eu falar da coragem na língua morta CORACTUM. Da ação do coração, daquele que fora a morada de sentimentos. Pudera ser também sobre a habilidade de atravessar o medo, o perigo, a incerteza. De uma ou outra forma houvera dor. A dor habitara um intervalo entre uma coisa e outra coisa diferente. Como uma cerca de arame farpado formada por vários arames intervalados linhas abaixo de linhas, linhas acima de linhas, horizontais.

 
 
 

De passagem, 2008

 

Em 2005, dois anos antes de minha aposentadoria ao mesmo tempo em que publicava, em parceria com as professoras Sandra Santos e Margarida Mello, o livro ‘Cálculo com Aplicações’, fruto de um trabalho coletivo de vários anos lecionando e coordenando as disciplinas de calculo para os cursos de Ciências Exatas e Tecnológica, também surgia uma inspiração artística com a publicação pela editora Autores Associados, de meu livro infantil ‘Jardim de Aninha’, todo ilustrado, por mim, no tear. 

 
 

 

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Meu nome é Vera Figueiredo,

nome artístico. Nasci em Marília/SP em 1948. Resido e trabalho em Campinas/SP. Doutora em Matemática, iniciei minha carreira de artista visual após 35 anos de docência na Universidade Estadual de Campinas. Cursei Aperfeiçoamento em Artes Visuais, IA/ Unicamp (2007/2008) e Arte Contemporânea na Arquitec/Campinas/SP (2008/2009)…

 
 
 
 
 

Vídeo Sheila Oliveira

 
 
 

 

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