Pelo buraco da agulha

II Edição Residência ACHO 2021 - 2022
Imagens e suas Metamorfoses , Feitiços & Fabulações
Coordenadores: Fabiana Bruno (Brasil) e Óscar Guarín (Colômbia)

A descoberta da agulha

Ayla vivia na época dos caçadores de Mamutes. Naquele manhã estava sentada com as mulheres do acampamento costurando. Usavam em seus afazeres, cordas mais grossas ou fios mais finos. Este material era em geral produzido a partir de tendão de veado que era golpeado até soltar as fibras e formar os filamentos. Ayla pegou um pedaço de couro e com ajuda de um furador, abriu um espaço nele para receber o filamento. Com a ajuda de um osso ela empurrou o fio que tinha entre os dedos para dentro do couro. Enquanto fazia este movimento pensou: ah! se ao menos fosse possível prender de algum modo esse fio ao osso.

Foi quando Ayla gritou... ai, acho que descobri! Pediu licença ao grupo de mulheres e saiu em disparada a procura de Jondalar.  Ansiosa, ela mal podia contar a seu companheiro a ideia que tinha tido. Ele, por sua vez, ficou espantado com a beleza da descoberta... Juntos desapareceram para tentar construir o tal aparato de costura. Jondalar era muito esperto para implementar novas ferramentas uteis. 

Depois de um certo trabalho e alguns testes Ayla estava preparada para exibir o feito à sua comunidade. Sentada, pegou os dois pedaços de couro que iria unir nesta cerimonia. Eles estavam previamente furados nas bordas. Para a costura, usou um cordão relativamente fino e introduziu-o através do BURACO que havia sido habilidosamente escavado por Jondalar,  na parte de trás do ‘novo puxador-de-fio’. Emocionada, respirou aliviada por esta conquista. 

Passou o puxador de fio pelo orifício do couro, só que desta vez este arrastava o filamento atrás de si. Ergueu o trabalho para ser apreciado e ouviu exclamações de assombro. Havia sido percebido que o fio, passado através do couro, continuava preso ao puxador. Apanhou o outro pedaço que queria prender  a esse e repetiu o processo. Juntou as duas peças de couro e ergueu seus braços mostrando o resultado em suas mãos. Uma a uma daquelas mulheres vivenciou essa experiência.

Foi escolhido o marfim e esculpido, com ferramentas existentes, cilindros muito pequenos, compridos e com um furo em uma das extremidades.  Foi chamado de ‘puxador-de-fio inteligente’ a este novo implemento que puxava o fio através do couro em vez de empurra-lo.

Aos poucos o puxador de fios foi evoluindo até se tornar capaz, ele mesmo, de furar o couro e carregar o fio. Para juntar as duas peças bastava introduzir a ponta fina do puxador pelos dois pedaços de couro ao mesmo tempo e arrastar a linha pelas duas peças para prende-las uma na outra.

Esta haste comprida e fina com uma ponta de um lado e orifício de outro era uma invenção cujo valor se reconhecia imediatamente: a descoberta de uma COISA simples, óbvia e tão eficiente!