Pequenas Histórias 1

Tempo do Coração

 É outono. Percebi esta tarde diferente.
Senti um amor imenso pela humanidade.
Senti a unidade. Senti o tempo do coração.

Como uma grande família reunida vamos oferecer ao planeta uma reunião de
humildade num encontro presencial de amor. Vamos transformar nossa casa em um espaço
sagrado de acolhimento a todos aqueles que moram neste planeta.

Vamos despedir de formas velhas de viver. Vamos dar prioridade às palavras que
brotam da inocência do coração.
Vamos voltar para casa.


Reciclagem Menor

Num tempo de busca por transformações internas, caminhando pela praia de um rio, quase mar, recolhia fios de pesca deixados ali por esquecimento ou negligência de seres humanos.
Quase sempre era um emaranhado, enroscado em algas e conchas, cujo único caminho parecia ser o de ir e vir das águas, até causar dano a algum habitante do lugar. 
O primeiro cuidado era desenroscar a linha para leva-la na bolsa. Este ato criaria um segundo momento de paciência, o de desenrolar, lavar e enrolar os fios limpos num novelo.
Esta etapa era quase uma oração. A cada nó desfeito, algo parecia ser revelado.
Chegava a hora de tecer. Cada intervalo de tempo livre (as agulhas empunhadas, tricô ou crochê não importava) era preenchido pelo vazio de pensamentos vindo da repetição continua da tessitura.
As peças depois de prontas revelavam um aspecto estranho de cores e texturas diversas. Uma delas foi usada como matriz e sua impressão me causou espanto.
Os fios encontrados na praia, livre dos nós e da sujeira e com a ajuda de meus gestos, foram transformados numa marca no papel. Esta marca me revelou a intensidade de novas conexões internas que pude desfrutar neste caminho de busca.